sexta-feira, 2 de setembro de 2016

CONSULTÓRIO: Saber errar é preciso

(texto escrito pela psicóloga Rita Castanheira Alves, da Psicólogo dos Miúdos)

Foto: Pinterest
Quantas vezes já errou? Quantas vezes lhe permitiram que errasse? E se eu lhe disser que aprender a errar, e estar consciente dessa possibilidade, é um assunto de toda a vida e mais além? Fazia ideia?

Grande parte das pessoas não sabe errar, não tenta, sequer, para não errar. E começa cedo, na escola. É valorizado o acerto, o fazer como é suposto. Há risos quando se erra; há o grito de um adulto que ensina e que se indigna: «Como é possível ainda não saberes?» É certo que, assim, o erro diminui, porque deixa de se responder, para não se errar. Porém, assim, também não se acerta e também não se aprende. 

Consequentemente, também não se conquista e não se aperfeiçoa. É essencial a promoção da tentativa e do erro, até ao acerto ou não, porque no meio das tentativas e até ao erro, desenvolvem-se sempre novas descobertas e competências: tolerância à frustração, criatividade, raciocínio lógico, reflexão, imaginação, perseverança, persistência e autoconfiança.

Depois, há os erros comuns de todos nós, que vivemos e nos relacionamos, e que são mais difíceis de evitar: gritar mais alto do que era suposto, dar uma resposta torta, tomar uma decisão inadequada, magoar muito alguém de quem se gosta… O erro inevitável, movido pela impulsividade, por um dia mais difícil ou por não nos sentirmos bem. Um erro que é injusto, mas que nos acontece a todos e é, também, para toda a vida e mais além. Saber errar. Saber que não erra quem não arrisca, mas que certamente errará quem arrisca gostar, quem arrisca relacionar-se e quem arrisca falar.

Neste assunto dos erros, é essencial lembrarmo-nos que somos história. Somos passado, presente e futuro e somos tudo aquilo que estes espaços temporais englobam: uma educação que nos influencia, as nossas experiências, as nossas feridas e as nossas mágoas. Temos entranhado em nós aquilo que nos «dói» e aquilo que teimamos evitar ou não admitir, mas nem sempre conseguimos, e aquilo que dói faz-nos errar, mesmo quando não queremos. É essencial trazer a possibilidade de errar para um nível consciente; estarmos alerta e lúcidos de que poderemos fazê-lo. O importante é sabermos errar. Sabermos o que fazer quando erramos, sabermos o que dizer e o que retirar quando os nossos filhos erram. Saber errar é chegar mais próximo do acerto e, pelo meio, descobrir muitas coisas que desconhecíamos.

Errar permite:

-                 Conhecer o que se fez mal;
-                 Alterar comportamentos;
-                 Experienciar emoções difíceis, lidando com elas;
-                 Pedir desculpa;
-                 Reflectir sobre o que correu mal;
-                 Ensinar aos mais novos as noções de «certo» e «errado».

Regras a não esquecer:

 -               O esforço e a persistência devem ser sempre valorizados, mesmo quando se erra;
-                 Os adultos devem ser exemplo, procurando dar o seu melhor, mesmo correndo o risco de errar;
-                 É importante lembrar os mais novos de que o erro deve ser evitado. No entanto, é fulcral reforçar a ideia de que, depois do erro, temos sempre a oportunidade de corrigi-lo, não voltar a errar e tentar fazer melhor;
-                 Quando o adulto erra, ao ser injusto com o filho ou outro elemento da família, deve sempre pedir desculpa e tentar corrigir o seu comportamento;
-                 Perante um erro da criança ou do jovem, é essencial ajudá-lo a perceber como poderá corrigir ou melhorar da próxima vez.


Rita Castanheira Alves

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